terça-feira, 20 de outubro de 2009

sustentação

Confia em mim, eu não te deixo cair.

Diante da angústia, da dor que vem de dentro ou de fora, da sensação caótica de não encontrar chão sob nossos pés, buscamos sustentação.

Quem nos segure, nos abrace, seja continente à nossa aflição. Desde muito pequeninos encontramos no abraço da nossa mãe, esse espaço que acolhe, segura e acalenta, transmite a tranqüilidade necessária para afugentar nossos monstros.

Toda vida buscamos de algum modo, pessoas que possam cumprir esse papel.

Nessas relações, sejam amorosas, fraternas ou familiares, ou substitutivas desses vínculos, depositamos, tal qual um bebê, nossa vida, nosso universo afetivo-emocional, numa entrega da mais absoluta confiança. Fantasia ou ilusão que cobra, muitas vezes, um alto preço.

Porque qualquer que seja a relação, e por mais bem intencionado que seja o outro, essa sustentação é impermanente, é transitória.

Ela é profundamente necessária, possibilita uma contenção à loucura na qual poderíamos nos perder. O outro é nosso referencial, nosso espelho, é a mão que nos permite não cair no abismo.

Mas...à medida que crescemos, não apenas fisicamente, mas emocionalmente, faz-se necessário que se avalie o quanto se pode confiar no outro, o tamanho da sua força, da sua capacidade de acolhimento e o tempo em que podemos agüentar que o outro nos sustente, sem perdermos nesse processo a medida da nossa própria força interna.

O outro, seja quem for, não estará lá para sempre a nos segurar.Além disso, também é humano, suscetível às próprias fragilidades. E é bom que assim seja, sob pena de ficarmos inertes e passivos. Esperando, esperando, esperando...e cobrando. Depositando no outro toda a responsabilidade.

Algo parecido com aprender a andar de bicicleta. No início nosso pai, ou mãe, nos equilibra, empurra, ensina a pedalar. Depois as rodinhas fazem um pouco dessa função.

Chega a hora que depende de nós. Da nossa coragem, do nosso ímpeto, da nossa ousadia.

Da confiança de que vamos conseguir.

Essencial a mão que se oferece amorosamente, o abraço que absorve a nossa dor.

Ainda mais essencial que não se desmereça o enorme potencial que reside lá no mais íntimo, na semente que contém a centelha vital capaz de nos fazer seguir em frente. Apesar de.

Um comentário:

Anônimo disse...

A semente persistente do querer viver, do querer germinar, que nos move sempre a procurar, onde quer que seja, a sustentação para "ser".
Que lindo texto!!! É o pensamento de Winnicott vestido em poesia!!!
Você é uma artista!!!
Beijo
Nina

"Coração mistura amores. Tudo cabe."