sexta-feira, 30 de outubro de 2009

quero

Quero o sol aquecendo a minha pele, ressaltando a minha morenice já quase pálida de tanto mofo pela chuva que nos recolhe ao ninho. Quero a luz que ilumina toda a minha alma e que apenas o sol é capaz de fazer brilhar desse jeito único. Quero a areia branca e macia massageando meus pés exaustos da prisão dos calçados. Quero o mergulho fundo na imensidão do mar, a exorcizar todos os males. Quero também boiar, deixar-me no abandono da gravidade da vida. Quero reencontrar o lugar dos meus refúgios desde que me conheço por gente, a paisagem combinada de céu, mar e montanha. Quero o descanso das horas de um tempo que não urge nem ruge seus dentes afiados. Quero a companhia doce dos meus amores que reabastecem meu coração de afeto. Quero os passeios gostosos com a minha companheira fiel, eufórica pelos espaços amplos e pela liberdade de latir à vontade. Quero esse direito de querer. E que seja feita a minha vontade...

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

estranha paz


Hoje sinto uma paz estranha. Ela não me chega por algo excepcionalmente bom que tenha acontecido em minha vida. E talvez por isso seja algo novo. Vem do meu íntimo, não depende de nada nem de ninguém. Os dias até tem sido um tanto tumultuados, devido a mudanças, literais, na minha rotina, no meu espaço de trabalho. Então me surpreende essa paz, serenamente visceral. Gosto de quem sou, de ser capaz de amar, de cativar afeto mesmo sem me dar conta disso. Me emocionei tantas vezes com pessoas que de repente me diziam que algo que eu disse, ou escrevi num cartão, ou um sorriso que acolheu, um abraço apertado que sem explicação extinguiu parte da dor...Mesmo tendo passado muito tempo havia deixado essa marca. Demorei quase uma vida pra me dar conta do meu significado na vida de alguém. Acho que precisava antes ser capaz de aceitar meu valor no meu próprio espelho pra enxergar o reconhecimento do outro. Ou talvez seja exatamente o contrário. Paradoxal. Meus gestos agora se vestem de um amor consciente. Minhas palavras fluem seguras de si, não como donas de verdades mas como donas do meu pensar. Não preciso mais daquela coisa infantil e ingênua de ter que agradar pra ser amada. Deste tipo de amor eu abro mão, não careço mais.

Estou vacinada finalmente. Em paz.


perda insana

Um pequeno outdoor, daqueles que se colam em muros, continha o seguinte anúncio: “Perdeu seu amor? Trazemos de volta pra você. Pagamento após resultado. Tel ...”

Se aquele anúncio existe com certeza há demanda.

Como será alguém que busca este tipo de “serviço”? Que se dispõe a pagar para que seja feito um “trabalho” espiritual pra que tenha de volta um amor que partiu. Sou uma ignorante a respeito desses assuntos, não faço a menor idéia de como se realiza isso. E na verdade, prefiro continuar assim.

O que ma faz pensar é sobre o “cliente”.

Ninguém gosta ou fica feliz quando alguém que se ama, por alguma ou nenhuma razão, não te ama mais, não quer mais uma relação.

Dói. E dói muito.A gente se sente rejeitado, desamparado, sem chão. E essa dor custa um bocado a passar. Nossa fantasia, e desejo, muitas vezes inconfessável, é de que o outro vai se arrepender, vai dar outra chance, vai voltar a nos amar como antes.

Mas pode não ter esse final feliz que se espera. E ser mesmo o fim.

Que sentimento é esse que recorre ao “sobrenatural” pra apagar esse The End da tela de seus quadros mentais? Posse, orgulho, onipotência. Qualquer coisa menos amor.

Quantas monstruosidades cometidas sob a justificativa do amor...

Amor é liberdade, é respeito. Nenhum amor floresce, nem mesmo sobrevive às prisões que cerceiam a alma, que pretendem acorrentar sentimentos.

A perda é algo inerente à tudo. Aceita-la talvez seja o único caminho capaz de impedir a maior de todas as perdas: a de si mesmo, da sua mínima lucidez.

delicie-se com essa música linda

nesse arranjo especial:

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

viver a vida

Confesso que sou um tanto quanto noveleira.

Gosto de acompanhar, não de forma ferrenha, daquelas que não perdem um capítulo, ou que deixam de fazer outros programas só pra não perder a novela. Devido aos meus horários e até pelas temáticas, sigo a das oito (que na verdade é das nove).

Algumas simplesmente me distraem, me permitem um certo desligamento momentâneo de mim mesma. Pequeninos momentos de folga.

Mas sou fã mesmo das novelas do Manuel Carlos. Simples, retratam a vida real.

São absolutamente factíveis, verossímeis. Seus dramas e personagens são construídos a partir de histórias que chegam aos seus ouvidos, ganhando dimensão e enredo.

Nessas eu me identifico, reconheço traços de pessoas amigas, de histórias que conheci. Elas plantam inúmeras sementes a serem germinadas, vai depender do solo que encontram e da qualidade das regadas.

Porque como tudo, podemos assisti-las nos atendo apenas a superfície, observando as roupas e tendências de moda, de decoração, criticando atores das quais não gostamos, achando tudo muito chato já que é tão real quanto as nossas vidas.

Ou podemos aprofundar o olhar e perceber todo um universo de significados, de um autor maduro e sensível.

Talentoso artista que revela com as tintas da emoção o desabrochar demasiadamente humano de todos nós.

Que capta no cotidiano da vida seu verdadeiro encanto.

Proust já dizia: "A verdadeira origem da descoberta consiste não em procurar novas paisagens, mas em ter novos olhos".


terça-feira, 27 de outubro de 2009

a vida é questão de fé

Mudanças. Sempre abalam um pouco as estruturas.

Simplesmente porque provocam inquietude, rompem a comodidade, subvertem a ordem conhecida e segura. Ainda quando se sabe que as mudanças serão pra melhor. Uma angústia misturada com um bocado de ansiedade remexe nas nossas entranhas. E a incerteza sobre o que virá, como será e como iremos nos sentir diante do novo, do desconhecido, afetam a tranqüilidade do nosso sono; e até sonhando esse sentir nos acompanha.

Mas o que seria de fato nossas vidas sem as mudanças? De dentro e de fora.

Um deserto árido, sempre a mesma paisagem. Tédio, estagnação.

Possivelmente entraríamos num processo de putrefação, como o alimento que esquecido no armário embolora, cria mofo e apodrece.

A vida exige movimento, dinamismo, renovação.

Então, quando a mudança surgir, qualquer que seja ela, apesar de tudo isso, permita-se um outro olhar. Dê uma chance ao novo. Aprenda e cresça com ele.

Apenas se dê ao direito de despedir-se do que se vai, viva esse luto, pequeno ou grande. Só haverá espaço se você deixar que o antigo fique por lá, no passado.

Leve na sua bagagem, tudo que aprendeu, o saldo positivo, a polpa suculenta e nutritiva da fruta.

A vida sempre segue em frente. Depende de nós acompanha-la ou não.

Gosto muito dessa frase do Jorge Vercilo : a vida é questão de fé.


E quando vejo,
a vida espera mais de mim
mais além, mais de mim
O eterno aprendizado é o próprio fim
Já nem sei se tem fim
De elástica, minha alma dá de si
Mais além, mais de mim
Cada ano a vida pede mais de mim
mais de nós, mais além


segunda-feira, 26 de outubro de 2009

escrita amadora

Algumas pessoas queridas andaram me estimulando a escrever mais.
E como tudo que se deseja aprimorar a gente tem que ensaiar muito, fazer muitas e muitas vezes, estou aqui tentando. Até que novas comportas se abram revelando uma fluidez de pensamentos harmonicamente vestidos de palavras.
Neste exercício da escrita sinto como se estivesse a colher os frutos maduros de uma árvore.
No post anterior contei flashs de uma história real, tendo, é claro, o cuidado de distorcer ou modificar qualquer coisa que pudesse identificar a personagem.
Fiquei pensando que para escrever de forma clara é preciso que haja interesse e conhecimento, ainda que primitivo, naquilo que pretendo abordar.
Descobri que meu grande tesouro são as pessoas que de um modo ou outro tive o privilégio de conhecer ao longo dos anos. Suas histórias de vida, dramas pessoais, histórias de coragem e superação ou de medo e estagnação.
Isso sim me estimula. Conhecer o universo do outro numa troca afetiva em que recebi muito mais do que possa ter oferecido. Crescer vendo o outro crescer.
Por isso, algumas vezes irei escrever aqui histórias verdadeiras. Sempre com o título Retrato.
Talvez essas histórias possam lançar luz sobre alguém ou possam mobilizar e fazer refletir.
Ficarei feliz se assim for...

domingo, 25 de outubro de 2009

retrato

Para Ana era muito difícil compreender sua mãe. Ressentimentos e mágoas muito difíceis de superar. Desde que se lembrava por gente a mãe estava sempre a criticá-la. Por mais que se esforçasse em agradar nunca era o bastante. Se tirasse 9 em física, matéria que detestava, lá vinha ela dizendo que precisava estudar mais; porque não tirava 10?

É surpreendente como esse sentimento de pouca valia a acompanhava, mesmo já quase completando 40 anos, sendo uma ótima profissional, cuidando amorosamente de sua pequena família, marido e filho ainda com 5 aninhos.

Bonita, elegante, inteligente, repleta de amigos. Porém estava constantemente insatisfeita e isso tinha muito a ver com a necessidade de receber dessa mãe a aprovação e o amor que esperava de uma mãe.

Tivera sido adotada, ainda recém nascida. Soube que sua mãe biológica havia sido abandonada pelo marido com 9 filhos e grávida. Não tinha condições de cria-la.

Foi seu pai que soube, no hospital em que trabalhava, que uma parturiente desejava colocar a filhinha para adoção. Buscou a esposa que estava visitando a família no interior para que visse a criança. Quando retornaram a mãe havia tido alta com o bebe e tudo que sabiam era o pequeno lugarejo onde estaria hospedada na casa de uma irmã.

Foram até lá, percorrendo de carro, bem devagar até que avistaram uma casinha onde havia fraldas de pano penduradas no varal. A mãe, que estivera com a filhinha em seus braços por 3 dias, quase desistira pois o amor materno florescera. Pela insistência da irmã e pela maneira amorosa com que aquele pai segurava seu bebe, decidiu que o melhor para sua filha era entrega-la.

Ana sempre recebeu do pai todo o amor e cuidados que necessitava até sua morte alguns anos atrás. Para ela uma suspeita teimava em acariciar seu coração. A de que ele fosse na verdade, seu pai biológico. Todos diziam o quanto ela se parecia com ele e talvez isso explicasse as atitudes de sua mãe para com ela.

Seu esforço hoje, adulta, é o de aceitar sua mãe como ela é. A maneira pela qual ela a ama não é a que Ana imagina e deseja receber de uma mãe. Mas é a forma com que ela consegue amá-la. Existe uma enorme diferença entre ter e não dar e simplesmente não ter para dar.

Claro que as mágoas deixaram marcas em seu mundo interno incapazes de desaparecer. Mas Ana pode aprender a deixar cicatrizar e entender que agora ela possui recursos para se perceber em sua imensurável riqueza.

sábado, 24 de outubro de 2009

cuidar


Tudo que vive merece a delicadeza de gestos
capazes de fazer florescer a beleza e o perfume...


sexta-feira, 23 de outubro de 2009

impermeáveis

Outro dia lendo a coluna semanal da Eliane Brumm no site da revista Época, tive interesse de ler os comentários.

Sempre gosto de observar como as pessoas reagem ao que foi exposto pelo autor, acrescenta riqueza ao texto. Outros olhares, outras abordagens, exemplos reais relacionados ao que foi dito...acho bacana.

Por outro lado me chama a atenção as manifestações radicais e até agressivas de alguns que discordam da autora. Já dizia Nelson Rodrigues que a unanimidade é burra.

As diferenças, discordâncias, opiniões absolutamentes contrárias são apenas aquilo que são: modos diferentes de pensar sobre o mesmo tema. Ponto.

Expor esses pensamentos, argumentar, defender seus pontos de vista, ok, nada mais justo e democrático. A força da agressividade e os ataques, por vezes até chegando às ofensas são atitudes próprias dos tiranos, ditadores que como a palavra sugere querem ditar, infligir as dores no outro.

Ocorre que algumas pessoas são impermeáveis, e impenetráveis. Lisas. Rasas.

Não tem um mínimo de capacidade de aprofundar-se em nada e nada consegue penetrar nessa superfície. Fúteis.

Passam toda uma vida sem vive-la, andando à margem, ao largo.

Não compreendem a intensidade das emoções, o significado das relações afetivas, não se arriscam a perder e portanto também nada ganham.

São incapazes de se colocar no lugar do outro, de ter empatia, de se doar.

Rasas. Vazias.

É uma pena. Não sabem o quanto estão perdendo...

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

homens e barba









Um papo descontraído no meio da tarde, sobre a aparência que engana a verdadeira idade cronológica, ficou ecoando aqui dentro.

No universo feminino é quase unanimidade os cuidados com a beleza, a vaidade.

No homem, é claro, essas preocupações não deixam de existir. A calvície é causa de sofrimento para muitos, que recorrem a todos os recursos possíveis para tentar evita-la.

Ou ameniza-la; quem sabe até esconde-la. Alguns poucos, depois de certo tempo acabam por finalmente aceita-la. Em geral esses ficam até mais bonitos.

Mas eu quero mesmo é falar sobre a barba.

Símbolo forte de masculinidade, às vezes de seriedade, sobriedade.

Lembro de uma amiga dos tempos do colegial (atual ensino médio para os mais jovens) que dizia que quando o cara era feio usava barba pra disfarçar. Rs.

Até faz sentido.

Fiquei pensando sobre alguns aspectos da barba. Dois principais.

Um é que, de fato, para homens cuja beleza facial deixa um pouco a desejar, a barba serve de disfarce. Acontece que muitas vezes ele tem traços bonitos e aí ocorre o contrário, esconde sua beleza.

Outro é que pra mim a barba tem um significado mais subjetivo: algo que não se revela, como se fosse uma máscara que encobre sua verdadeira face. Um mistério que paira no ar, um enigma que procura afastar, que suscita certa desconfiança. Em si, no outro, no espelho.

Acredito que a cara lavada, a face limpa e clara, a revelar os traços, os vincos, as marcas do tempo, são capazes de surpreender com uma beleza única. O mistério tão necessário porque guarda tesouros e segredos, e atrai o interesse pela descoberta, vem de dentro e prescinde de artifícios externos.

Cada pessoa tem um universo de infinita beleza. Cabe-nos desvelar.

P.S. uma amiga ao ver este post e identificar-se com a minha

percepção dos homens de barba,

brincou comigo dizendo "ai,ai,ai, voce tinha que colocar logo

uma foto de Sean Connery..."

Concordo que pensei a mesma coisa ao escolher uma foto.

Mas quando vi essa, confesso que não resisti. rs

Alguns raros homens, apesar da barba, possuem

um magnetismo sedutor e irresistível.

Me lembro do Sean no filme Armadilha contracenando

com Catherine Zeta-Jones,

charmoso demais ...

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

mosaico

Quis o destino que ambos se encontrassem. Clara, separada do homem que havia amado e que subitamente adoecera e morrera. De AIDS. A dor havia sido quase insuportável, mais que perde-lo ela descobrira que ele tinha transmitido à ela aquele maldito vírus. Foi como uma bomba que explodiu dentro de si abalando todas as suas estruturas. Espanto, medo, angústia, tristeza e uma raiva imensa... dele, de Deus, de si mesma. Por que ela? O que tinha feito de tão errado pra merecer esse castigo?

Clara passou por todas as fases que antecedem a aceitação. Suportou o insuportável. Lentamente foi juntando os pedacinhos, tentando em toda a sua fragilidade descobrir alguma força que a fizesse seguir em frente. O pior de tudo era calar a sua dor. Não queria que ninguém soubesse, principalmente sua mãe. Era doloroso demais imaginar o seu sofrimento. Quanto aos outros, pra que contar? Para ser julgada e condenada? Para ter sua vida exposta, sujeita ao preconceito e ignorância dos vizinhos? Justo naquela cidade tão pequena...

Encontrou acolhida junto às pessoas que se dedicavam a cuidar dela e de tantos outros. Foi com enorme resistência e cheia de dúvidas que aceitou participar de um grupo terapêutico. Tinha medo da exposição. Mas afinal aquelas pessoas estavam passando pelo mesmo que ela e já se encontravam para passar pelas consultas. Enfim aceitou o convite. Foi desse modo que conheceu Marcos. Começaram com olhares de tímido interesse e atração. Passaram a caminhar lado a lado até a casa da Clara, após as reuniões. E foram compartilhando suas histórias. Encontrando acolhida e escuta para as suas dores, apaixonaram-se. Mas tinham medo. Medo de amar, medo de perder. Como se não acreditassem merecer da vida essa chance, esse encontro.

Mas como o amor grita mais alto e invade todos os espaços, ele venceu. Namoraram. Casaram.

Tempos depois, apesar de todas as inúmeras orientações para que se prevenissem, Clara engravidou. O desejo foi muito poderoso, foi capaz de sabotar toda razão. Foi uma mistura intensa e delicada de sentimentos. Alegria, medo, culpa, ansiedade...esperança. Fez tudo o que foi necessário para que seu filho não recebesse aquela herança.

Nasceu Pedro, forte e perfeito. Clara viveu a emoção da maternidade, entristecida por não poder amamentar seu bebe, mas renovada pela vinda daquela criança tão amada. Pedro foi cuidado, tomou todas as medicações necessárias, e finalmente após 18 meses teve confirmado seu resultado de exame. Negativo. Foi uma festa, cada um daqueles profissionais que acompanharam todo o processo, não pode conter a emoção. Clara e Marcos renasceram em Pedro.

Essa é uma história verídica; os nomes, é claro, são fictícios.

Quis novamente o destino que eu revisse Clara e Marcos alguns anos depois. Agora não mais no ambulatório, mas no hospital onde eu trabalhava. Acompanhei a internação de Clara e pude estar ao seu lado até o fim. Serena, paradoxalmente, apesar da dor e do medo, estava agradecida pela vida que havia construído para si. Todos aqueles cacos deram origem a um lindo mosaico, que finalmente ela pudera admirar.

Hero (Tradução)

Existe um herói, se você olhar dentro do seu coração
você não tem que ter medo do que você é
Há uma resposta, se você procurar dentro da sua alma
E a tristeza que você sente vai desaparecer

E então vem um herói
Com a força para continuar
E você deixa os seus medos de lado
E você sabe que pode sobreviver
Então quando você sentir que acabou a esperança,
Olhe dentro de você e seja forte
E você finalmente verá a verdade
Que há um herói em você

É uma longa estrada
Quando você encara o mundo sozinho
Ninguém estende uma mão para te ajudar
Você pode encontrar amor, se você procurar dentro de
você mesmo
E o vazio que você sente irá desaparecer

Deus sabe, sonhos são difíceis de seguir
Mas não deixe ninguém destruí-los
Continue, haverá o amanhã
Em tempo, você encontrará o caminho.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

sustentação

Confia em mim, eu não te deixo cair.

Diante da angústia, da dor que vem de dentro ou de fora, da sensação caótica de não encontrar chão sob nossos pés, buscamos sustentação.

Quem nos segure, nos abrace, seja continente à nossa aflição. Desde muito pequeninos encontramos no abraço da nossa mãe, esse espaço que acolhe, segura e acalenta, transmite a tranqüilidade necessária para afugentar nossos monstros.

Toda vida buscamos de algum modo, pessoas que possam cumprir esse papel.

Nessas relações, sejam amorosas, fraternas ou familiares, ou substitutivas desses vínculos, depositamos, tal qual um bebê, nossa vida, nosso universo afetivo-emocional, numa entrega da mais absoluta confiança. Fantasia ou ilusão que cobra, muitas vezes, um alto preço.

Porque qualquer que seja a relação, e por mais bem intencionado que seja o outro, essa sustentação é impermanente, é transitória.

Ela é profundamente necessária, possibilita uma contenção à loucura na qual poderíamos nos perder. O outro é nosso referencial, nosso espelho, é a mão que nos permite não cair no abismo.

Mas...à medida que crescemos, não apenas fisicamente, mas emocionalmente, faz-se necessário que se avalie o quanto se pode confiar no outro, o tamanho da sua força, da sua capacidade de acolhimento e o tempo em que podemos agüentar que o outro nos sustente, sem perdermos nesse processo a medida da nossa própria força interna.

O outro, seja quem for, não estará lá para sempre a nos segurar.Além disso, também é humano, suscetível às próprias fragilidades. E é bom que assim seja, sob pena de ficarmos inertes e passivos. Esperando, esperando, esperando...e cobrando. Depositando no outro toda a responsabilidade.

Algo parecido com aprender a andar de bicicleta. No início nosso pai, ou mãe, nos equilibra, empurra, ensina a pedalar. Depois as rodinhas fazem um pouco dessa função.

Chega a hora que depende de nós. Da nossa coragem, do nosso ímpeto, da nossa ousadia.

Da confiança de que vamos conseguir.

Essencial a mão que se oferece amorosamente, o abraço que absorve a nossa dor.

Ainda mais essencial que não se desmereça o enorme potencial que reside lá no mais íntimo, na semente que contém a centelha vital capaz de nos fazer seguir em frente. Apesar de.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

vida minha

Me sinto feliz com a vida , nesse presente onde o passado me enternece e o futuro me estimula. Tudo que vivi, absolutamente tudo, merece a minha gratidão e o meu sorriso.

Foram o caminho possível e necessário. Muitas vezes um caminho agradável como a beira-mar, com a areia afundando macio entre os dedos e a água fresca a relaxar a alma. Outros tantos foram suficientemente firmes, como uma estrada. E outros ainda, foram subidas íngremes, a me exigir fôlego extra, escorregões e tropeços. Esses reforçaram as minhas pernas, meus alicerces...

Hoje, olho ao redor e ao espelho, e me sinto serena. Conquistei aquilo que mais desejei e tive a sorte de receber do alto ainda mais e melhor do que havia pedido.

Sem perfeição, sem falsas ilusões, sem fantasias demasiadas.

Uma vida suficientemente boa, nem mais nem menos, na medida certa para o meu crescimento e realização.

Nem por isso pensem que me acomodo. Não, ainda tenho muitos planos, sonhos, buscas... e esperança.

Talvez eu já tenha vivido pouco mais da metade da minha vida, se tiver sorte. Uma ótima metade, por sinal.

Isso me proporciona um certo currículo pra novas experiências e algumas chances de sucesso nessa empreitada. Os fracassos também serão benvindos, fazem parte do processo.

A essência é que possa chegar aos 90 com alegria e ternura, tendo boas coisas a contar aos netos e talvez bisnetos.

E que no momento da minha partida, imitando nosso poetinha Vinícius, eu possa me dizer da vida que tive: não foi imortal, posto que é chama, mas foi infinita enquanto durou.


domingo, 18 de outubro de 2009

para celebrar o envelhecer


ESCRITO POR REGINA BRETT, 90 ANOS, CLEAVELAND, OHIO.

"Para celebrar o envelhecer, uma vez eu escrevi 45 lições que a vida me ensinou. É a coluna mais requisitada que eu já escrevi. Meu taxímetro chegou aos 90 em agosto, então, aqui está a coluna, mais uma vez:

1. A vida não é justa, mas ainda é boa.
2. Quando estiver em dúvida, apenas dê o próximo pequeno passo.
3. A vida é muito curta para perdermos tempo odiando alguém.
4. Seu trabalho não vai cuidar de você quando você adoecer. Seus amigos e seus pais vão. Mantenha contato.
5. Pague suas faturas de cartão de crédito todo mês.
6. Você não tem que vencer todo argumento. Concorde para discordar.
7. Chore com alguém. É mais curador do que chorar sozinho.
8. Está tudo bem em ficar bravo com Deus. Ele agüenta.
9. Poupe para a aposentadoria, começando com seu primeiro salário.
10. Quando se trata de chocolate, resistência é em vão.
11. Sele a paz com seu passado, para que ele não estrague seu presente.
12. Está tudo bem em seus filhos te verem chorar.
13. Não compare sua vida com a dos outros. Você não tem idéia do que se trata a jornada deles.
14. Se um relacionamento tem que ser um segredo, você não deveria estar nele.
15 Tudo pode mudar num piscar de olhos; mas não se preocupe, Deus nunca pisca.
16. Respire bem fundo. Isso acalma a mente.
17. Se desfaça de tudo que não é útil, bonito e prazeroso.
18. O que não te mata, realmente te torna mais forte.
19. Nunca é tarde demais para se ter uma infância feliz. Mas a segunda só depende de você e mais ninguém.
20. Quando se trata de ir atrás do que você ama na vida, não aceite "não" como resposta.
21. Acenda velas, coloque os lençóis bonitos, use a lingerie elegante. Não guarde para uma ocasião especial. Hoje é especial.
22. Se prepare bastante; depois, se deixe levar pela maré...
23. Seja excêntrico agora, não espere ficar velho para usar roxo.
24. O órgão sexual mais importante é o cérebro.
25. Ninguém é responsável pela sua felicidade, além de você.
26. Encare cada "chamado" desastre com essas palavras: Em cinco anos, vai importar?
27. Sempre escolha a vida.
28. Perdoe tudo de todos.
29. O que outras pessoas pensam de você não é da sua conta.
30. O tempo cura quase tudo. Dê tempo.
31. Indepedentemente de a situação ser boa ou ruim, irá mudar.
32. Não se leve tão a sério. Ninguém mais leva...
33. Acredite em milagres.
34. Deus te ama por causa de quem Ele é, não pelo que vc fez ou deixou de fazer.
35. Não faça auditoria de sua vida. Apareça e faça o melhor dela agora.
36. Envelhecer é melhor do que morrer jovem.
37. Seus filhos só têm uma infância.
38. Tudo o que realmente importa, no final, é que você amou.
39. Vá para a rua todo dia. Milagres estão esperando em todos os lugares.
40. Se todos jogássemos nossos problemas em uma pilha e víssemos os de todo mundo, pegaríamos os nossos de volta.
41. Inveja é perda de tempo. Você já tem tudo o que precisa.
42. O melhor está por vir.
43. Não importa como vc se sinta, levante, se vista e apareça.
44. Produza.
45. A vida não vem embrulhada em um laço, mas ainda é um presente "

sábado, 17 de outubro de 2009

ternura

TERNURA


Vinicius de Morais

Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma breve canção aos teus ouvidos.
Das horas que passei à sombra de teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar estático da aurora.


sexta-feira, 16 de outubro de 2009

relaxar


Sorrir.
Porque hoje é sexta, dia de relaxar, tomar um choppinho gelado
(apesar da chuva que não dá uma trégua),
e aproveitar o fim de semana pra curtir nossos amores
sem hora marcada, sem pressa.

Abaixo algumas frases de Millor Fernandes com seu humor inteligente.

"Com muita sabedoria, estudando muito, pensando muito, procurando compreender tudo e todos, um homem consegue, depois de mais ou menos quarenta anos de vida, aprender a ficar calado."

"Você está começando a ficar velho quando, depois de passar uma noite fora, tem que passar dois dias dentro."

"A verdade é que a maior parte das pessoas foge de tentações que nem se dão ao trabalho de tentá-las."

"Errar é humano. Ser apanhado em flagrante é burrice."

"De todas as taras sexuais, não existe nenhuma mais estranha do que a abstinência."

"Democracia é quando eu mando em você, ditadura é quando você manda em mim."

"Anatomia é uma coisa que os homens também têm, mas que, nas mulheres, fica muito melhor."

"Chato...Indivíduo que tem mais interesse em nós do que nós temos nele."

"Não devemos resisitir às tentações: elas podem não voltar."

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

dar...

DAR NÃO É FAZER AMOR

Dar é dar.
Fazer amor é lindo, é sublime, é encantador, é esplêndido.
Mas dar é bom pra cacete.
Dar é aquela coisa que alguém te puxa os cabelos da nuca...
Te chama de nomes que eu não escreveria...
Não te vira com delicadeza...
Não sente vergonha de ritmos animais. Dar é bom.
Melhor do que dar, só dar por dar.
Dar sem querer casar....
Sem querer apresentar pra mãe...
Sem querer dar o primeiro abraço no Ano Novo.
Dar porque o cara te esquenta a coluna vertebral...
Te amolece o gingado...

Te molha o instinto.
Dar porque a vida é estressante e dar relaxa.
Dar porque se você não der para ele hoje, vai dar amanhã, ou depois de amanhã.
Tem pessoas que você vai acabar dando, não tem jeito.
Dar sem esperar ouvir promessas, sem esperar ouvir carinhos, sem

esperar ouvir futuro.
Dar é bom, na hora.
Durante um mês.
Para os mais desavisados, talvez anos.

Mas dar é dar demais e ficar vazio.
Dar é não ganhar.
É não ganhar um eu te amo baixinho perdido no meio do escuro.

É não ganhar uma mão no ombro quando o caos da cidade parece querer te abduzir.
É não ter alguém pra querer casar, para apresentar pra mãe, pra dar
o primeiro abraço de Ano Novo e pra falar:
"Que que cê acha amor?".

É não ter companhia garantida para viajar.
É não ter para quem ligar quando recebe uma boa notícia.
Dar é não querer dormir encaixadinho...
É não ter alguém para ouvir seus dengos...
Mas dar é inevitável, dê mesmo, dê sempre, dê muito.


Mas dê mais ainda, muito mais do que qualquer coisa, uma chance ao amor.
Esse sim é o maior tesão.
Esse sim relaxa, cura o mau humor, ameniza todas as crises e faz você flutuar

Experimente ser amado...


(Luis Fernando Veríssimo)


quase oração

Quase uma oração

"Um dia a gente acorda e percebe que mudou, depois de levar muita porrada e ter os ossos moídos junto aos sonhos.
Um dia a gente acorda e percebe que nem toda mudança precisa ser amarga,
embora o que nos mova quase sempre seja a dor, esta parceira do imprevisto.
Um dia a gente acorda e descobre do lado do avesso um espaço zen, uma espécie de paz interior que nos adula e acaricia,
como se a mãe voltasse a nos pegar no colo.
Neste dia, inexplicavelmente,
decidimos que o melhor a fazer
numa manhã é plantar um girassol
só para ver, dali a um tempo,
sem angústia, dilema ou rejeição,
que a vida dança a dança dos dervixes...
e que a nossa entrega à vida
é um ritual sem hoje nem amanhã.
A felicidade pode ser o ato de movimentar -se
como os girassóis, para lá e para cá,
só pra ver onde começa e onde termina o dia...
sem pressa.
Os acontecimentos não nos pertencem."

(Célia Musilli)

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

ser amado

EU TE AMO... NÃO DIZ TUDO!


Você sabe que é amado(a) porque lhe disseram isso?

A demonstração de amor requer mais do que beijos, sexo e palavras.

Sentir-se amado é sentir que a pessoa tem interesse real na sua vida,

Que zela pela sua felicidade,
Que se preocupa quando as coisas não estão dando certo,

Que se coloca a postos para ouvir suas dúvidas,
E que dá uma sacudida em você quando for preciso.

Ser amado é ver que ele(a) lembra de coisas que você contou dois anos atrás,

É ver como ele(a) fica triste quando você está triste,
E como sorri com delicadeza quando diz que você está fazendo uma tempestade em copo d'água.

Sente-se amado aquele que não vê transformada a mágoa em munição na hora da discussão.

Sente-se amado aquele que se sente aceito, que se sente inteiro.
Aquele que sabe que tudo pode ser dito e compreendido.

Sente-se amado quem se sente seguro para ser exatamente como é,
Sem inventar um personagem para a relação,
Pois personagem nenhum se sustenta muito tempo.

Sente-se amado quem não ofega, mas suspira;
Quem não levanta a voz, mas fala;
Quem não concorda, mas escuta.

Agora, sente-se e escute: Eu te amo não diz tudo!

(Arnaldo Jabor)


terça-feira, 13 de outubro de 2009

entre fendas

"Sempre levei a crença de que o crescimento que eu procurava viria com a consciência de cada ato, de cada passo. Continuo acreditando, mas o que percebo agora é a confusão que fazia entre ser consciente e controlar; um controle para o qual eu sempre dei grande parte das minhas forças, visceral, na tentativa de fugir do que é imprevisível, incontrolável, escuro e dolorido. Não é a toa que as minhas impressões sobre vida e morte se fundiam e confundiam; o movimento parecia cessar, sufocado, apertado e o caminhar ficava lento frente à velocidade dos meus sonhos, à ansiedade dos meus desejos e à impaciência com as minhas próprias imperfeições.
É. Tantas vezes condenei aqueles que pareciam estranhos à si mesmos, tantas vezes me incumbi da tarefa de apresentá-los às suas próprias almas achando que a minha, eu já conhecia, que a minha, já estava perto de mim, entre os meus braços. Grande engano. Falso controle desse ego teimoso.
As almas são da vida, são a vida (a vida são as almas) e ela não cabe apenas entre os meus braços, no meu laço. O que a minha razão conhece sobre mim mesma?! Pra qual distância ela pode me levar se apenas alguns passos ela pode enxergar?
Por mais que aperte a vida bem forte entre as minhas mãos, ela escorre entre os meus dedos, diluída em meu suor. O esperado se frustra e o traçado se desvirtua.
Me desespero e custo enxergar que toda vez o descontrole das rédeas me levam pro lugar, que no fundo, eu sempre quis estar. Por que não confiar?
A menininha doce, cheia de cuidados por todos os lados, sempre confundiu a sua sensibilidade com uma fragilidade que nem mesmo sabe se existia. O medo do medo que o medo dá quase sempre tornou o desconhecido, intolerável. O parque de diversões que vivia no sonho se tornou sem graça diante da possibilidade da desconhecida sensação de estar de ponta-cabeça com os pés a balançar. O beijo do menino que a cativava com o olhar, perdeu a doçura com o medo de não saber como lidar.
Por mais que crescesse, a dificuldade em deixar a menininha, no seu devido lugar, se retratava pela procura, incessante, por um outro alguém que pudesse me ajudar. Difícil perceber que as minhas próprias mãos me acalentam, que o meu próprio afago me conforta, que o meu próprio amor cura as feridas.
Quanto tempo passiva frente ao próprio destino? Quantas vezes ensaiando o ato heróico? Quantos amores perdidos? Quantos momentos não-vividos para permanecer no morno, naquilo que não aquece nem acalma? Maldita mania de viver no outono.
Ainda bem que as forças de vida-morte-vida vencem sempre o meu esforço em controlar. Descolorida seria essa vida se os meus passos fossem somente até onde o meu medo pode chegar.
Há um tempo atrás pedi que o ano fosse uma eterna festa de carnaval; comprei o convite pro baile e coloquei o vestido mais bonito; passei o batom vermelho e botei a flor no cabelo. Apenas (e não apenas) cometi o erro em insistir para carregar junto, agarrada ao peito, aquela mala velha, desgastada. Tão cheia, não dava conta de levar os novos sorrisos, com tantos medos, não tinha, sequer, lugar para os novos anseios. Nem sei o motivo certo pra levar tamanho fardo; a levo há tanto tempo, mas nunca a abri e nem sei, realmente, o que carrego dentro.
Entre goles e marchinhas de carnaval, o homem de sorriso bonito olhou-me com um olhar de dar arrepios e eu, com as pernas bambeando, destrambelhadamente quis seguí-lo sem a mala soltar. Levei um tombo certeiro que atingiu o meu joelho. Destino ou não, a menininha voltou a morar entre as pernas da mãe e a insistência na resistência concretizou a sua vontade de não se dobrar. O que era suportável, tornou-se dolorido.
A raiva que me tomou conta, não deixou perceber que fui lançada, exatamente, pra onde sempre achei que queria estar. O tempo ali demorou pra passar, mas como tudo nessa vida tem sua razão de ser (e de não ser), também foi o remédio pra cicatrizar as feridas que ainda sangravam e foi a dor necessária pra fazer gritar o meu desejo por liberdade.
A mala velha não me serve mais.
A vida insiste em me mostrar que não há o que temer, que não há nada de horrendo em nenhum lugar. Mesmo aqueles monstros, que habitam a escuridão do meu armário, são possíveis de enfrentar.
Sussurros ao pé do ouvido já me disseram que existe força aqui. Resolvi então, procurar. Às vezes me perco no caminho e o medo toma conta; as mãos paralisam, a boca formiga, o suor escorre em minha face e os meus olhos se enchem de água.
A tarefa de lidar comigo mesma realmente é árdua. Não adianta olhar pro lado e procurar por alguém pra fazer aquilo que somente eu posso fazer por mim mesma. Não adianta sentar e chorar esperando que a dó faça alguém lá no céu realizar algum milagre. Não adianta fugir. Não tem pra onde fugir. Não tem como se distanciar da dor porque a dor sou eu mesma e não há como sair de mim. O caminho é meu. Parece solitário. E é meu. Só meu.
O que tudo isso me faz sentir e me força acreditar é que entre o desespero e a desesperança existe um espaço pra brotar a confiança. O que não pode faltar é a persistência em resistir á tudo aquilo que pareço não suportar. E mesmo fora do alcance do meu olhar, um tambor no meu peito anuncia que a força realmente mora por lá.
O nó no peito ainda não está desfeito; a respiração ainda é ofegante; a ansiedade pela cura ainda me tira o sono, mas a única saída é lutar, todo dia lutar. E quando o sol se põe e a noite cai, eu me pego a pensar contra quem é que vivo a lutar. Eu procuro, procuro, procuro. Todas as luzes se apagam, os monstros e diabos vão se embora e a única que permanece ali, na minha frente, é aquela mala velha que eu estava a carregar."
(Camila - Entre Fendas)

"Coração mistura amores. Tudo cabe."