segunda-feira, 12 de outubro de 2009

gentileza

Outro dia, em viagem pro Rio, parei para um lanche e, claro, pra me esticar um pouco após 3 horas dirigindo. Como gosto muito de um cafezinho depois do almoço e pra despertar e enfrentar mais 3 horas de viagem, pedi um carioca pra mocinha da cafeteria.

Ao me entregar a xícara percebi o quanto estava tremendo e observei que outra funcionária dava orientações sobre o serviço. Perguntei: “Hoje é o seu primeiro dia de trabalho aqui?” Ao que ela, surpresa respondeu: “É sim.”

Olhei bem nos seus olhos, abri meu melhor sorriso e disse: “ Fica tranqüila, você está se saindo muito bem. Vai dar tudo certo, você tem jeito de quem aprende tudo rapidinho.”

Quase deu pra sentir seu alívio pelo suspiro. Sorriu relaxada e a sua colega aproveitou a oportunidade para brincar com ela e reforçar o que eu havia dito.

Gentileza. Muito mais do que as minhas palavras ou atitudes possam ter feito de bem para aquela moça, fez um enorme bem pra mim. E foi tão fácil, tão simples. Não me custou nada e ainda parece desencadear mais gentilezas em volta, como um efeito dominó.

“...Gentileza é o exercício cotidiano de vestir a pele do outro. É cuidar não de alguém, mas de qualquer um. Mesmo que ele não seja nosso parente, mesmo que seja um estranho. Cuidar por nada. Sem precisar de motivo. Cuidar por cuidar....

...Gentileza não é mesmo algo que temos, é mais algo que somos. E que nos tornamos. Talvez o verdadeiro poder esteja naquele que pode dar sem esperar nada em troca....

Assim como inventaram um dia sem carro, acho que podíamos criar um dia com gentileza. Não precisa ser uma campanha de massa, basta uma decisão interna, silenciosa, de cada um. Só para experimentar. Um dia só tentando ser gentil. Engolindo a palavra ríspida, calando a fofoca ainda no esôfago, olhando de verdade para as pessoas, escutando o que o outro tem a dizer, mesmo que não nos pareça tão interessante, sorrindo um pouco mais.

Pequenos gestos. Segurar o elevador, dar oi e dar tchau, não se atravessar na frente de ninguém nem sair correndo para ser o primeiro, ter paciência em vez de se irritar, elogiar um pouco mais, deixar passar o que não foi tão legal, mas também não foi tão grave e, quando a crítica for imprescindível, abusar da delicadeza. Um dia só, mesmo que seja apenas para experimentar algo diferente.

Quem sabe o que pode acontecer?”

Trecho do artigo da Eliane Brumm – revista Época

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"Coração mistura amores. Tudo cabe."