domingo, 23 de maio de 2010

Alegria ( Fernanda de Castro )

De passadas tristezas, desenganos
amarguras colhidas em trinta anos,
de velhas ilusões,
de pequenas traições
que achei no meu caminho...,
de cada injusto mal, de cada espinho
que me deixou no peito a nódoa escura

duma nova amargura...
De cada crueldade
que pôs de luto a minha mocidade...
De cada injusta pena
que um dia envenenou e ainda envenena
a minha alma que foi tranquila e forte...
De cada morte
que anda a viver comigo, a minha vida,
de cada cicatriz,
eu fiz
nem tristeza, nem dor, nem nostalgia
mas heróica alegria.

Alegria sem causa, alegria animal
que nenhum mal
pode vencer.
Doido prazer
de respirar!
Volúpia de encontrar
a terra honesta sob os pés descalços.

Prazer de abandonar os gestos falsos,
prazer de regressar,
de respirar
honestamente e sem caprichos,
como as ervas e os bichos.
Alegria voluptuosa de trincar
frutos e de cheirar rosas.

Alegria brutal e primitiva
de estar viva,
feliz ou infeliz
mas bem presa à raíz.

Volúpia de sentir na minha mão,
a côdea do meu pão.
Volúpia de sentir-me ágil e forte
e de saber enfim que só a morte
é triste e sem remédio.
Prazer de renegar e de destruir o tédio,

Esse estranho cilício,
e de entregar-me à vida como a um vício.

Alegria!
Alegria!
Volúpia de sentir-me em cada dia
mais cansada, mais triste, mais dorida
mas cada vez mais agarrada à Vida!

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Ao maestro...lágrimas elevando a alma

Hoje eu chorei, como a muito não chorava...
Ando sensível, mais que o habitual
Assim, sem saber ao certo o porque
Mas ao ouvir o depoimento do grande maestro João Carlos Martins,
falando de suas sucessivas superações na paixão pela música,
embora não tenha sido a primeira vez que ouvi
sua emocionante história,
tocou a minha alma de algum modo,
como nunca antes...
De que material é feita essa grandeza?
De que fonte inesgotável se alimenta essa coragem?
Não me ilude ou engana qualquer idealização que se faça
de um semi herói, inabalável em sua confiante fortaleza.
Não, ele não é um Deus ou herói. Ele é um homem.
Como eu e voce. Tem medo, pavor, incerteza, insegurança.
Sente vontade de descer do trem, muitas vezes. De desistir.
Mas não o faz. Segue. Ainda mais forte, apesar da fragilidade.
Cada um de nós tem seus recursos, seu próprio repertório.
Não dá pra comparar ou exigir que as reações diante
das pedras no caminho sejam iguais ao do outro.
Mas podemos nos espelhar.
Se ele é capaz, com maior esforço talvez eu também possa ser.
Afinal somos humanos.
Os degraus que separam
nossa evolução necessitam mais que tudo,
do nosso ímpeto em subir...

"Coração mistura amores. Tudo cabe."