domingo, 28 de março de 2010

alegria


Adoro esses encontros que conjugam

todo afeto, saudade, ternura e riso

uma vontade imensa de parar o tempo e ficar ali,

entregue a esse amor que nem tempo,

nem distancia conseguem desgastar

Esses os verdadeiros tesouros, os bens mais preciosos

e por eles dedico meus melhores recursos

os mais altos investimentos

A vida nos dá a escolher ...

sempre percorro o caminho do afeto

desconheço qualquer outro

que possa preencher meu coração

e inundar a minha alma de maior alegria


terça-feira, 23 de março de 2010

O que nós queremos deles?

Cronica de Danuza Leão

Mas afinal, o que querem as mulheres de um homem? O que nós queremos? Em primeiro lugar, que ele nos ame muito; muito, mas não exageradamente. Que nos entenda, que nos ouça sempre com muita atenção, mesmo que não esteja muito interessado no que estamos falando (mas fingindo estar). Não, ele não precisa nos trazer flores; mas deve estar sempre nos procurando, fazendo um carinho no nosso ombro, pousando (apenas pousando) a mão na nossa coxa por debaixo da mesa ou quando estiver dirigindo o carro, coisa de quem se sabe dono absoluto do nosso coração (e do nosso corpo); só faz isso um homem seguro, que é o que todas queremos.

Por outro lado, é preciso que ele nos solicite muito, pergunte que gravata deve usar, se gostamos da água-de-colônia nova, que carro deve comprar, mesmo que acabe fazendo o que quer, sem dar a mínima para nossa opinião. Mas também é preciso que às vezes fique quieto, calado, para nos deixar bem inquietas, imaginando no que será que ele está pensando.

Mulher não pode nunca se sentir nem muito segura nem muito insegura: tem que ser no ponto certo. O ponto certo, essa é a questão. Para isso é preciso sensibilidade, coisa fundamental no homem que se ama. Sensibilidade para sentir quando estamos precisando de um carinho, de um amasso ou de ficar em silêncio. E ser capaz de, na hora de uma briga, dizer vem cá, sua boba”, e a gente se aninhar nos braços dele esquecendo de tudo que estava falando. Ah, como é bom um homem assim.

Não é preciso que ajude a lavar os pratos nem a arrumar a cozinha, essas bobagens a gente faz com o maior prazer quando ama. Mas a cada cinco minutos pode perguntar, enquanto assiste o futebol (sem tirar os olhos da TV), se ainda vai demorar muito essa arrumação, pedir para você levar uma cerveja e dizer “vem sentar do meu lado para ver o jogo”. Esse jogo não nos interessa nem um pouco, mas saber que ele precisa de nós num momento tão crucial é tudo de que precisamos para ser felizes. E quando o time dele fizer um gol e ele comemorar te abraçando e beijando muito, seja solidária e mostre-se tão feliz como se tivesse acabado de ganhar o mais lindo vestido da última coleção de Valentino. Não basta ser mulher: tem que participar.

A hora de ir para a cama é muito importante: mesmo que ele esteja estudando um processo ou lendo uma revista em quadrinhos, é fundamental que ponha a perna em cima da sua, para que você sinta que, aconteça o que acontecer, ele estará sempre ligado em você. E um homem que quer ser amado sobre todas as coisas não pode jamais, mas jamais, depois de apagar a luz do abajur, se virar de costas para dormir; isso é crime que nenhuma mulher perdoa.

E quando, já no escuro, ele faz um carinho na sua cabeça e se encaixa – não há mulher que resista a um homem que sabe se encaixar bem -, aí é que você sente a felicidade total e pensa que é aquele homem, aquele e nenhum outro, que pode fazê-la feliz. É só isso que queremos dos homens. Não é pedir muito, é?

domingo, 21 de março de 2010

sexta-feira, 19 de março de 2010

o que dizem nossas malas...

O perigo da viagem mora nas malas.
Elas podem nos impedir de apreciar a beleza que nos espera. Experimento na carne a verdadedas palavras, mas não aprendo. Minhas malas são sempre superiores às minhas necessidades. É por isso que minhas partidas e chegadas são mais penosas do que deveriam.
Ando pensando sobre as malas que levamos...
Elas são expressões dos nossos medos. Elas representam nossas inseguranças.
Olho para o viajante com suas imensas bagagens e fico curioso para saber o que há dentro das estruturas etiquetadas. Tudo o que ele leva está diretamente ligado ao medo de necessitar. Roupas diversas; de frio, de calor – o clima pode mudar a qualquer momento! – remédios, segredos, livros, chinelos, guarda chuva – e se chover? –, cremes, sabonetes, ferro elétrico – isso mesmo! – Microondas? – Comunique-me, por favor, se alguém já ousou levar.
O fato é que elas representam nossas inseguranças. Digo por mim. Sempre que saio de casa levo comigo a pretensão de deslocar o meu mundo. Tenho medo do que vou enfrentar. Quero fazer caber no pequeno espaço a totalidade dos meus significados. As justificativas são racionais. Correspondem às regras do bom senso, preocupações naturais para quem não gosta de viver privações.
Nós nos justificamos. Posso precisar disso, posso precisar daquilo...
Olho ao meu redor e descubro que as coisas que quero levar não podem ser levadas. Excedem aos tamanhos permitidos. Já imaginou chegar ao aeroporto carregando o colchão para ser despachado?
As perguntas são muitas... E se eu tiver vontade de ouvir aquela música? E o filme que costumo ver de vez em quando, como se fosse a primeira vez?
Desisto. Jogo o que posso no espaço delimitado para minha partida e vou. Vez em quando me recordo de alguma coisa esquecida, ou então, inevitavelmente concluo que mais da metade do que levei não me serviu pra nada.
É nessa hora que descubro que partir é experiência inevitável de sofrer ausências. E nisso mora o encanto da viagem. Viajar é descobrir o mundo que não temos. É o tempo de sofrer a ausência que nos ajuda a mensurar o valor do mundo que nos pertence.
E então descobrimos o motivo que levou o poeta cantar: “Bom é partir. Bom mesmo é poder voltar!” Ele tinha razão. A partida nos abre os olhos para o que deixamos. A distância nos permite mensurar os espaços deixados. Por isso, partidas e chegadas são instrumentos que nos indicam quem somos, o que amamos e o que é essencial para que a gente continue sendo.
Ao ver o mundo que não é meu eu me reencontro com desejo de amar ainda mais o meu território. É conseqüência natural que faz o coração querer voltar ao ponto inicial, ao lugar onde tudo começou.
É como se a voz identificasse a raiz do grito, o elemento primeiro.
Vida e viagens seguem as mesmas regras. Os excessos nos pesam e nos retiram a vontade de viver. Por isso é tão necessário partir. Sair na direção das realidades que nos ausentam. Lugares e pessoas que não pertencem ao contexto de nossas lamúrias... Hospitais, asilos, internatos...
Ver o sofrimento de perto, tocar na ferida que não dói na nossa carne, mas que de alguma maneira pode nos humanizar.
Andar na direção do outro é também fazer uma viagem. Mas não leve muita coisa. Não tenha medo das ausências que sentirá. Ao adentrar o território alheio, quem sabe assim os seus olhos se abram para enxergar de um jeito novo o território que é seu. Não leve os seus pesos. Eles não lhe permitirão encontrar o outro.
Viaje leve, leve, bem leve. Mas se leve.

(Padre Fábio de Melo)

quarta-feira, 17 de março de 2010

palavras



São tantas palavras em burburinho
como se subitamente todas descobrissem ter voz
e desatassem a falar enlouquecidas
Preciso do silencio
para escutá-las mansamente
compreender seu significado
e traduzir sua emoção
tentando compor entre elas e o silencio
uma melodia literária

Palavras respiram silencio

"Já que se há de escrever, que pelo menos não se esmaguem com palavras as entrelinhas". Clarice Lispector


segunda-feira, 15 de março de 2010

quero um amor assim

Roberto Carlos fez a trilha sonora da minha vida.
Com 3 anos, vestida de mini saia jeans, cinto com medalhão, estilo jovem guarda, quando me pediam pra imitar o Roberto, eu apontava o dedo em riste e dizia: "é uma brasa, mora!"
Nem fazia idéia do que era isso, mas todo mundo adorava. Como a minha mãe tem a coleção completa dele, foi a inúmeros shows, tipo fã mesmo, cresci embalada por ele.
Mas fazia algum tempo que uma música nova dele não me emocionava.
Essa me tocou fundo, desde a primeira vez que ouvi, sem nem saber que era ele, mas reconhecendo sua voz. Depois li em algum lugar que ele havia feito para o grande amor da sua vida, Maria Rita.
Então entendi porque me tocou de modo especial. Há algo profundo na melodia, nas palavras, algo que não vem do imaginário, mas do vivido. Um amor maduro. Desses que a gente espera uma eternidade e mesmo que dure um único verão, terá aquecido todos os invernos que virão.

domingo, 14 de março de 2010

monólogo das mãos

Belíssimo texto de Giuseppe Ghiaroni na interpretação grandiosa do mestre Lucio Mauro.
Encantem-se...

sábado, 13 de março de 2010

caderno revelador


Atualmente participo de duas atividades intelectuais,
dois grupos de estudos,
um de psicanálise e outro de técnicas literárias (escrita).
De repente me dei conta: uso o mesmo caderno.
As páginas iniciais com várias anotações e resumos de psicanálise.
Este grupo é mais antigo, já são vários meses.
Assim como são 25 anos nessa trajetória...
As últimas páginas, de trás pra frente,
contém os primeiros e hesitantes rascunhos e dicas da escrita.
Apenas o primeiro encontro do grupo,
aprendendo a engatinhar na direção oposta...
Curioso.
Nas páginas centrais do mesmo caderno,
antes de dar início ao novo grupo de estudos,
duas páginas inteiras preenchidas.
Ensaiava minha nova assinatura.
Para a mudança de todos os meus documentos.
Minha nova identidade.
Interessante.
Revelador.

quarta-feira, 10 de março de 2010

caminho inverso


Tenho tentado aprender coisas novas, a linguagem tem sido uma delas.
Meu ofício provoca um exercício no qual me vejo bastante fortalecida, de tanto praticá-lo.
Escuto sonhos, relatos, histórias e, de certo (e grosso) modo, eu traduzo essa linguagem simbólica, muitas vezes velada ou inconsciente, para que a pessoa possa se apropriar de sua realidade interna.
Talvez por isso eu fique tão fascinada com a literatura, com a habilidade que o bom escritor tem de construir narrativas, conjugar palavras, criar estórias usando metáforas, que simplesmente dizem sem dizer.
Esse é o meu desafio.
Estou querendo o caminho inverso ao que trilhei.
Quero aprender a contar estórias, a soltar a imaginação, sem amarras.
Quero conjugar verbos novos, experimentar palavras estranhas, procurar no dicionário, arriscar novos estilos até encontrar aquele que seja o meu.
Quero me permitir deixar subentendido.
Deixar que a brisa baixe o véu.

terça-feira, 9 de março de 2010

nove

Era madrugada de sexta feira, 04 de maio de 2007. Sentada na janelinha do avião, contemplando a noite escura, pontuada de pequenos amontoados de luzinhas espalhados aqui e alí, de repente se deu conta que somava nove. Era uma velha mania sua, somar os números até sobrar um único inferior a dez. Sua vida era pontuada pelo nove. 4+5+2+0+0+7= 1+8= 9.
Sorriu. Aos 45 anos, 9 de novo, iria finalmente resgatar sua origem.
Essa é uma longa história, a ser contada em capítulos ou episódios diversos. Neste, voltamos apenas 2 meses antes, momento em que, assim, inesperadamente, sua mãe lhe revelara que seu pai biológico não era quem pensava. Mas outro, que conhecera e se apaixonara, sem jamais ter revelado a ninguém. Dele, tudo que sabia era o nome, a cidade em que morava (em outro estado), e uma vaga informação de que tinha um importante trabalho voluntário ligado à doutrina espírita.
Depois daquela conversa, embora tenha tranquilizado a mãe em seu arrependimento, sentiu o chão fugir sob seus pés. Pela quarta vez em sua vida, e esperava fosse a última, tinha uma nova revelação sobre sua origem.
Levou dois meses para processar isso tudo internamente e para contar com a ajuda leal e prestativa de uma amiga, que conseguiu localizar uma pessoa com o mesmo nome que o pai.
Na véspera, preenchida de uma súbita coragem, ligou para o telefone, confirmando tratar-se da mesma pessoa. Comprou a passagem e avisou a mãe, que entrou em pânico, nunca imaginando que aquela filha sempre tão dócil tomasse essa atitude.
E agora, nessas tres horas de viagem, contemplando estrelas, revia toda sua trajetória.
De alguma maneira, parecia haver um sentido, mesmo que desconhecido.
Sentia um turbilhão de emoções: medo, ansiedade, expectativa, alegria, tristeza. Não fazia a menor idéia de como falaria. Como chegar para um homem, que deveria ter cerca de 70 anos e dizer: Boa tarde, eu sou sua filha?Tudo podia acontecer. Podia levar a porta na cara. Podia nem recebê-la.
A única coisa que naquele momento realmente importava é que ela iria enfrentar com coragem a sua verdade, a sua origem. Sem subterfúgios. Sem intermediários. Sem mentiras ou meias verdades. E o que quer que acontecesse seria inteiramente seu.
Seria finalmente dona da sua história.

domingo, 7 de março de 2010

duvide do primeiro encontro

Texto de Fabrício Carpinejar - Os olhos são coadjuvantes do olfato

Repassarei um truque aos filhos. Como selecionar um brigadeiro. Nunca compre o doce enorme. Logo se imagina que aquilo deve ter uma latinha inteira de leite condensado.

Na prateleira, é o imperador das bandejas, o pai do quindim, com o formato achatado de capuz. Sua criança babará no balcão, sofrerá um ataque de epilepsia. Por favor, contenha o impulso dela.

Apesar da aparência lustrosa e crocante, coberta de granulado, é uma enganação. Todo chocólatra fareja que é falso. Não pode ser real. Ele vai durar para sempre porque é impossível comer. Na primeira mordida, a arcada perderá seu fio. Procure um moleiro para recuperar a lâmina. É uma pasta com farinha. Até Taiwan seria mais caprichosa na pirataria.

O brigadeiro mais gostoso curiosamente é o pequeno, do tamanho de uma unha. Uma titica. A panelinha guarda lugar para mais dois. Não transmite nenhuma superioridade. Sozinho, não será localizado no mostruário, é uma formiga sendo carregada por uma folha. Depende de lupa, microscópio, pinça.

Mas é esse que fará você pagar o dobro e repetir à exaustão. A gana é obturar todos os dentes com seu conteúdo.

Com o minúsculo confeito, o desejo vem em caixa alta. Somente a língua trabalha, é quase líquido, desmancha no céu da boca e adoece o pensamento.

Portanto, repassarei também um conselho aos netos. Como duvidar do primeiro encontro. As estrelas não escrevem, unicamente brilham.

Ainda temos a expectativa de que ele teria que ser mágico, com efeitos especiais, relâmpagos, tremedeira, suor, frio na barriga. O corpo pescaria a clarividência, estaria certo do destino, pressentiria o casamento no primeiro toque, no primeiro beijo. Seria uma moleza, uma ejaculação precoce, uma tensão infindável. Abandonaríamos os compromissos pela certeza indomável das pupilas. Em madrugadas de lareira, o par esbaldaria aos amigos de que não houve hesitação, foi uma junção perfeita, um golpe de misericórdia no batimento cardíaco.

Já testemunhei amores avassaladores e cinematográficos que não duraram nem a manhã seguinte. O casal experimentou cenas de porta-retrato na cômoda, com todos os sintomas do cortejo romântico e idealizado: a música parou e as casualidades se moveram secretamente. E os dois não seguiram adiante, pois sequer se esforçaram.

O contato inicial pode ser uma droga, a pessoa irritar e bancar a arrogante, cometer grosserias e atazanar a paciência e mesmo assim despertar a curiosidade. Nada mais promissor do que a confusão. A proximidade surgirá pela desconfiança, pelo desafio desagradável, pelas visitas diárias ao ódio, até o momento em que não falará de outra coisa senão dela. Expulsará lentamente os preconceitos e aceitará de que não escolhemos o melhor, mas o necessário.

É a insistência que produz o amor, não o deslumbramento.

Paixão à primeira vista não existe com brigadeiro ou com mulheres. Mas cheiro à primeira vista é imbatível. A química não costuma falhar, desde que tenha tempo para misturar os ingredientes.

sábado, 6 de março de 2010

encarar o medo


Miedo

Composição: Pedro Guerra/Lenine/Robney Assis

Tienen miedo del amor y no saber amar

Tienen miedo de la sombra y miedo de la luz

Tienen miedo de pedir y miedo de callar

Miedo que da miedo del miedo que da

Tienen miedo de subir y miedo de bajar

Tienen miedo de la noche y miedo del azul

Tienen miedo de escupir y miedo de aguantar

Miedo que da miedo del miedo que da

El miedo es una sombra que el temor no esquiva

El miedo es una trampa que atrapó al amor

El miedo es la palanca que apagó la vida

El miedo es una grieta que agrandó el dolor

Tenho medo de gente e de solidão

Tenho medo da vida e medo de morrer

Tenho medo de ficar e medo de escapulir

Medo que dá medo do medo que dá

Tenho medo de acender e medo de apagar

Tenho medo de esperar e medo de partir

Tenho medo de correr e medo de cair

Medo que dá medo do medo que dá

O medo é uma linha que separa o mundo

O medo é uma casa aonde ninguém vai

O medo é como um laço que se aperta em nós

O medo é uma força que não me deixa andar

Tienen miedo de reir y miedo de llorar

Tienen miedo de encontrarse y miedo de no ser

Tienen miedo de decir y miedo de escuchar

Miedo que da miedo del miedo que da

Tenho medo de parar e medo de avançar

Tenho medo de amarrar e medo de quebrar

Tenho medo de exigir e medo de deixar

Medo que dá medo do medo que dá

O medo é uma sombra que o temor não desvia

O medo é uma armadilha que pegou o amor

O medo é uma chave, que apagou a vida

O medo é uma brecha que fez crescer a dor

El miedo es una raya que separa el mundo

El miedo es una casa donde nadie va

El miedo es como un lazo que se apierta en nudo

El miedo es una fuerza que me impide andar

Medo de olhar no fundo

Medo de dobrar a esquina

Medo de ficar no escuro

De passar em branco, de cruzar a linha

Medo de se achar sozinho

De perder a rédea, a pose e o prumo

Medo de pedir arrego, medo de vagar sem rumo

Medo estampado na cara ou escondido no porão

O medo circulando nas veias

Ou em rota de colisão

O medo é do Deus ou do demo

É ordem ou é confusão

O medo é medonho, o medo domina

O medo é a medida da indecisão

Medo de fechar a cara

Medo de encarar

Medo de calar a boca

Medo de escutar

Medo de passar a perna

Medo de cair

Medo de fazer de conta

Medo de dormir

Medo de se arrepender

Medo de deixar por fazer

Medo de se amargurar pelo que não se fez

Medo de perder a vez

Medo de fugir da raia na hora H

Medo de morrer na praia depois de beber o mar

Medo... que dá medo do medo que dá

Medo... que dá medo do medo que dá

quinta-feira, 4 de março de 2010

carta de despedida


Venho por meio desta te agradecer. Foram anos de convivencia e aprendizado, de erros e acertos, culpas e arrependimentos, ganhos e perdas. Enfim, como tudo na vida. Mas foram a nossa história, e por isso, única. Cada um com a sua versão dela, filtrada através do que sentimos e entendemos a cada episódio. Não a teria escrito diferente pois, embora não tenha tido o final feliz dos contos de fada, teve o final feliz da colheita, dos frutos produzidos. E nada, nada mesmo, valeria mais do que isso. Despeço-me com o coração tranquilo e alma serena. De longe, distante do abismo em que quase nos destruímos, sorrio e guardo na mais ampla gaveta, as doces lembranças de um amor vivido. Encerro desejando-te paz e citando Mario Quintana: "que importa restarem cinzas se a chama foi alta e bela?"

quarta-feira, 3 de março de 2010

sedução


Escrever é revelar-se
ousar despir-se dos pudores
pois maior nudez não há
maria-sem-vergonha
de ser vista do avesso
exposta no que há de mais íntimo

na alma escondem-se muito mais curvas
esconderijos amplos de surpresas
sótãos e porões misteriosos
corredores feito labirintos
levando a quartos plenos de prazeres
a amplos salões de festas
e arejadas varandas

despir-se das vestes e exibir-se nua
faz-se ato de provocante sensualidade
mas passa, logo vem o gozo e o desencanto

seduzir conjugando corpo e alma é brincar
nesse esconde-revela
em que o véu areja o ar
de que o fogo tanto precisa para queimar


terça-feira, 2 de março de 2010

re-conhecimento


Eu tinha apenas 13 anos e fui ao cinema com algumas amigas da escola assistir um filme sobre a vida de Gandhi. Sempre havia estudado em colégio de freiras, só meninas. Católico mesmo, com aulas de religião e frequentes idas à capela. Todo o meu conhecimento até então, de vida e morte, céu e inferno, anjos e santos, pecados, culpas, confissão, sacramentos, enfim todo esse olhar era através destas lentes. Achei lindo o filme e me emocionei com a história daquele grande homem. Mas ao final, um grande texto foi passando pela telona e conforme meus olhos liam as palavras meu coração enchia-se de uma emoção libertadora, impactante e ao mesmo tempo me invadia uma imensa sensação de alívio e paz. Chorei como uma criança, até hoje essa lembrança me contagia. Este texto falava sobre algo que eu nunca ouvira dizer, sobre eternidade, sobre reencarnação, sobre o sentido evolutivo da alma em busca da perfeição.
E nunca alguma coisa fizera tanto sentido pra mim. Esse conhecimento estava lá, em estado bruto, sem ter sido pensado ou elaborado, até porque objetivamente inexistia até então para mim. (Na verdade, qualquer dia em que eu me aventure a escrever a minha história de vida, existe um episódio anterior a esse, mas muito mais pessoal, em que a verdade estava lá dentro, eu sabia, mas não sabia até que alguém me contou...Mas essa é mesmo uma outra história...)
RE-CONHECIMENTO. Alguém pensou, elaborou, escreveu ou registrou algo que voce sabia internamente, sem ter se dado conta. E acontece um link, um encaixe sob medida.
Estava lá, em estado bruto, primitivo. Como o diamante.

"Não se esqueça de agradecer todos os dias à vida, a Deus, ou a seja lá qual for a força em que você acredita."
Encontrei esse texto ao acaso. Da psicanalista Andrea Naccache.
Amor deixado ao pé da árvore
Há quem acredite que dizer "eu te amo" é um presente. Não é. "Eu te amo" é só o pacote.
Um veículo. Uma vez pronunciadas as palavras, é preciso ver com cuidado quem veio entregue no pacote, em quais condições. "Eu te amo" sugere muito cuidado.
Primeiro porque quem recua diante destas palavras saberá para sempre que perdeu algo. É fácil dar as costas sem saber o que perdeu, mas é também uma pena. Nem todo amor precisa virar namoro.
Mas "eu te amo" sugere cuidado, especialmente, porque aceitar um amor parece ser aceitar alguém. Grande engano. Quando o amado tem a curiosidade de aceitar o amor, cabe ao amante se apresentar. É hora de abrir o presente. Só depois o amado pode dizer se gostou.

segunda-feira, 1 de março de 2010

alento



Poderiam ter sido ditas por mim, expressam algo do universo indefinível de mim mesma, do meu momento, das idéias que teimosamente transitam sem descanso nesse espaço interno.
Sou apenas mais uma, entre tantas, a sentir-se amplamente acolhida pela sensibilidade e delicadeza de sua narrativa.
Mais um "alento" de Eliane Brum, como bem disse Ruth de Aquino, comentando sua coluna de hoje: "Escrivaninha xerife".
Apenas alguns trechos geneticamente semelhantes a mim:


Por que só agora? Porque só agora a mereci.

Decidi que vou me enforcar nas cordas da liberdade. Para isso, precisava me reinventar com tudo aquilo que já era meu. Para marcar este ato, queria transformar algo da matéria volátil dos sonhos em existência concreta. A escrivaninha dos devaneios da minha infância materializou-se, com tudo de incontrolável que existe quando nos arriscamos a desentocar os sonhos – com uma vara que é sempre meio curta – e os expomos às intempéries do real.

achei que estava na hora de inventar uma nova vida para mim

Estava bem confortável lá. Mas há um momento que, pelo menos para mim, o conforto vira desconforto.

Eu gostava de tudo, mas estava curiosa com a possibilidade de criar uma nova história para mim. Respondia: estou indo porque não quero saber como será a minha vida daqui a cinco anos. E fui.

Não foi uma decisão intempestiva. Ela vem acontecendo dentro – e fora de mim – há um bom tempo.

Queria experimentar coisas novas e abrir outros caminhos para fora de mim. Outras maneiras de estar no mundo. Tenho uma convicção comigo: temos uma vida só, mas dentro dessa, podemos viver muitas. E eu quero todas as minhas.

Fiz uns cálculos e descobri que preciso me apressar se quiser conhecer o mundo inteiro – e eu quero. E também para escrever o tanto que sonho. Como já disse mais de uma vez, escrever não é o que faço, é o que sou. E estava na hora de comprar minha escrivaninha Xerife e mudar de cenário.

Se conseguir escrever ficção, como também sonho, só será possível pelo tanto de vida real e personagens de carne e osso que conheci . Só o real é absurdo. A ficção é sempre possível.

Estou com medo, muito medo. Volta e meia choro com saudade de uma vida que já não há. Mas eu não tenho medo de ter medo.

Sei que tudo pode dar errado, sempre pode. Mas se der, eu invento outro jeito de seguir adiante. Esta é outra convicção que tenho: prefiro fazer as coisas do meu jeito e cometer meus próprios erros.

Tanto quanto os acertos, os erros também devem nos pertencer.

"Coração mistura amores. Tudo cabe."