quinta-feira, 26 de novembro de 2009

um teto feito de amor


Despojar-se do conforto de uma cama macia, de um banho básico , de ter a segurança de um chão, quatro paredes e um teto para o abrigo noturno. Mais que isso, despir-se da sua pele para expor-se inteiramente à vivência de outra realidade, aquela sempre vista de longe, colocada sempre distante dos olhos e do coração. Essa foi a corajosa experiência pela qual minha filha, jornalista, teve marcada na alma, dessas que nos deixam cicatrizes. Ela poderia apenas ir até aquela comunidade e entrevistar as pessoas. E tenho certeza que faria uma rica matéria, como é de sua natureza. Mas era pouco. Ela queria aprofundar o olhar, queria sentir na pele como vivem essas pessoas em condições tão miseráveis, tão desumanas. Um barraco, construído sobre um córrego, feito de pedaços de papelão e madeirite, sem esgoto, sem água, sem banheiro, apenas um minúsculo sofá, e uma cama dividida entre 4 ou 5 pessoas. Pediu para dormir ali, e sob o olhar incrédulo da dona, prometeu que não roncava. Sensível e delicada com os sentimentos do outro, essa é minha filha. Passou lá 3 dias, a primeira noite no barraco, ajudou na derrubada e construção de uma nova casa, agora de madeira, com piso e telhas, infelizmente sem saneamento, que depende do poder público. Esse é o trabalho da Ong Um Teto para o Meu País ,onde participam jovens universitários que arregaçam as mangas para ajudar a construir um teto para quem vive sem condições minimamente humanas de moradia. De toda essa enriquecedora experiência ela vai escrever uma matéria, cujo olhar será capaz de emocionar e sensibilizar até os mais frios e indiferentes.
Esse é o seu talento.
Esse é meu orgulho. Entre tantos...

Para conhecer o trabalho da Ong :http://www.youtube.com/canalTeto

2 comentários:

nathalia.z disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
nathalia.z disse...

costumo dizer, mãe, que não saio imune das vidas que visito como repórter. parte do mistério está registrado no meu gravador. outra, esta muito maior, no meu coração. num barraquinho de suzano, deitada com olhos esbugalhados de medo dos ratos e dos pernilongos em bando, apalpei uma noite daquela realidade que jamais deveria existir. e, chacoalhada na alma, construí com os voluntários um novo lar para dona gilmara e mais 11 familiares. martelei estruturas, levantei paredes, serrei telhas e as ajeitei com carinho. olhei para aqueles jovens sujos de lama até a testa e desvendei a motivação deles num feriado chuvoso, tudos para erguer o teto de desconhecidos necessitados. uma experiência visceral. e veja só que coisa estranha, mãe. a repórter que eu escolhi ser tem muito a ensinar à jovem adulta aqui. preciso vestir mais a pele do outro para entendê-lo de verdade. obrigada pelo exemplo de sensibilidade - e pelo lindo post. te amo. beijo, nath

"Coração mistura amores. Tudo cabe."