domingo, 29 de novembro de 2009

quando somos pais dos pais


Envelhecer.
O corpo e a mente lentamente evoluem num processo decrescente, e por mais que o espírito mantenha-se ativo e jovem, sente-se o peso das coisas em que o corpo já não responde mais como antes.
Os cabelos ficam brancos, a pele perde o viço , os músculos perdem força e rigidez.
Perdas. Naturais mas dolorosas.
Existe grande diferença entre dor e sofrimento.
Não podemos fugir da dor mas o sofrer depende da nossa escolha.
Há ganhos. Experiência, sabedoria, tolerância, acompanhar a história de filhos e netos, vibrar com suas conquistas e ofertar colo e orientação nas horas difíceis.
Agora invertem-se os papéis.
É chegada a hora em que os filhos tornam-se pais dos pais.
E será preciso muito afeto, compreensão e paciência
para lidar o melhor possível com essa nova fase.
Aos filhos, a dedicação e tolerância para com as dificuldades da idade, a lentidão, as idas frequentes aos médicos, o entendimento de que será necessário retribuir amorosamente tudo aquilo que receberam quando bebês e crianças, em termos de tempo, esforço e paciencia.
Aos pais a compreensão de que os filhos lutam as lutas diárias, de trabalho e sobrevivencia, de cuidados e preocupações com seus filhos.
E, ao casal que teve seu casamento salvo dos desgastes de décadas, a força e o amor que possibilitem compartilhar das dores, dos medos, das perdas.
A mansidão de alma a tornar a vida mais leve.

Inevitavelmente a vida trará momentos de extrema dor, que vai demandar uma capacidade maior de enfrentamento e superação.
Enquanto esse momento não chega, a gente precisa aprender a viver com alegria, com prazer, privilegiando os espaços em que os afetos possam ser vivenciados, o trabalho possa trazer a gratificação de se saber útil e as oportunidades de realizar sonhos possam ser agarradas com fé.

...

Conheci uma grande mulher de nome Branca, que adotei como vó durante muitos anos. Durante 15 anos ela cuidou de seu marido, um homem do bem, médico querido e respeitado, que sofreu um AVC, aprisionando-o à cama, dependente de todos os cuidados. Nunca a vi queixar-se, pelo contrário era de uma alegria contagiante e uma disposição para a vida que muitos jovens nunca possuíram. Ela foi um grande exemplo pra mim e sei que deve estar divertindo-se muito lá no céu. Pra sorte dos anjos...

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"Coração mistura amores. Tudo cabe."